Em suas pregações Jesus orientava seus discípulos a orar e vigiar, outros mestres espirituais e filósofos também ressaltam a importância destes hábitos. Da oração trataremos no capítulo seguinte, agora abordaremos apenas a vigilância, que é imprescindível para começarmos a treinar nosso corpo mental. Deixá-lo tomar as rédeas de nossa vida é muito perigoso para o crescimento de nossa consciência.
G. I. Gurdjieff, um filósofo contemporâneo a Freud, desenvolveu um método para que seus discípulos treinassem a auto-observação para o auto-conhecimento. O objetivo dele era nos ajudar a tomar consciência de nossas tendências, pensamentos padrões, vícios, preconceitos, etc. Durante alguns meses fiz parte de um grupo que seguia os ensinamentos de Gurdjieff e tive muitas surpresas ao descobrir muitas tendências conscientemente negadas por medo ou vergonha.
No estado não-evoluído, que é a nossa condição comum, o ser humano é, então, o mesmo que uma máquina muito complexa e intrincada que, ao contrário das outras máquinas, tem a potencialidade de saber que é uma máquina. A “máquina” humana pode estudar a si mesma. Este estudo poderá fornecer as indicações necessárias para a conquista de outro nível de existência, mais elevado, no qual o verdadeiro arbítrio é possível. Este estudo, porém, da mesma forma que o estudo de qualquer outro sistema complexo, poderá consumir um tempo bastante longo e exigir muita persistência e atenção (SPEETH, 1996, p. 50).
O método desenvolvido por Gurdjieff é uma alternativa para aqueles que precisam desenvolver uma disciplina de auto-observação, existem muitos grupos que utilizam seu método no mundo inteiro. Na internet é possível localizar um destes grupos.
A auto-observação deve ser desenvolvida em nosso cotidiano até tornar-se hábito. Para nos conhecermos com profundidade é preciso estar atento aos nossos pensamentos, sentimentos e ações. Esta observação vai nos requerer uma disciplina muitas vezes cansativa e dolorosa, pois indubitavelmente iremos nos reconhecer com características e maneiras condenadas pelo nosso sistema de crenças e valores. O início deste trabalho pode ser doloroso ao reconhecermos aspectos que consideramos feios ou condenáveis em nossa personalidade, destruindo assim a nossa imagem de bondade e inocência.
Quando me percebi sentindo inveja de um amigo, tive muita dificuldade para aceitar aquele sentimento, por classificá-lo como inferior. Durante este processo já enfrentei muitas crises por reconhecer outras características que condeno em minha personalidade, como a violência, o ciúme, a ganância, os preconceitos etc. Mas, se é difícil ficar de frente com estas realidades pessoais é muito gratificante reconhecer cada pequeno passo no sentido de superá-los, cada vitória nos dá mais força para os desafios maiores que se sucedem na caminhada de quem se propõem a evoluir de forma consciente.
A melhor maneira de enfrentar um pensamento mau que tenta introduzir-se em nossa mente é dirigi-la instantaneamente para algum outro pensamento de preferência caracteristicamente elevado e nobre. A mente pode pensar uma só coisa de cada vez e a simples colocação da atenção em alguma outra coisa elimina naturalmente o primeiro pensamento (TAIMNI, 2007, p. 95).
Para transformar nossa natureza inferior, cheia dos aspectos que classificamos de negativos, é preciso primeiro tomar conhecimento deles e depois substituí-los pelas qualidades que consideramos positivas. Este é um exercício que vai requerer de nós um esforço contínuo e que só poderá ser realizado com a ajuda do nosso corpo mental, capaz de apreender idéias, avaliar e formar novos conceitos.
Escrito por Silvana Medeiros