Caso contido no livro: Bioenergética. Autor: Alexander Lowen, pag. 264.
As enxaquecas mostram-se suscetíveis à psicoterapia. Trabalhei com uma cliente que tinha crises de enxaqueca há anos e consegui, primeiro, reduzir a freqüência e a intensidade de suas dores de cabeça e, depois, eliminar as mesmas completamente. As vezes, conseguia livrá-la de uma crise violenta ajudando-a a descarregar os sentimentos com choro e gritos. Noutras vezes, quando o ataque já durava várias horas, este procedimento reduzia a intensidade mas não eliminava a dor de cabeça. No entanto, depois de uma noite de repouso em seguida a sessão, a dor de cabeça invariavelmente sumia. Era sempre necessário que o choro viesse acompanhado de lágrimas para que desaparecesse a dor de trás dos olhos.
Esta paciente tinha uma grande dificuldade em expressar qualquer sentimento de desejo de intimidade e contato. Ficava embaraçada e com medo de tocar meu rosto com as mãos, de modo delicado e sensível. Era também portadora de uma grave inibição sexual, como seria de se esperar depois de um tal bloqueio sobre a manifestação de seus desejos. Costumava ter os ataques antes de sair com qualquer rapaz, no caso de sentir alguma coisa por ele. Os ataques eram mais intensos toda vez que eu me ausentava por motivo de viagem ou férias. Era uma ajuda para ela falar comigo ao telefone e ela costumava telefonar-me para onde eu estivesse, com alguma freqüência. Evidentemente, havia feito uma intensa transferência para mim dos sentimentos que nutria por seu pai e que não tinha condições de admitir. Era necessário elaborar a transferência analiticamente e abrir caminho para a manifestação de seu desejo de intimidade com o pai, para que se pudesse remover a causa de suas dores de cabeça. Mas foi só quando ela conquistou a capacidade de exprimir tais sentimentos pelos olhos e pela voz que tive certeza de que ela conseguiria ficar livre deste tormento, para sempre.
Escrito por Silvana Medeiros