Psicotrópicos

Psicotropicos

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A minha primeira crise de depressão se iniciou em 1995, aos 25 anos, quando retornei para João Pessoa depois de seis meses trabalhando em Brasília. Tive que enfrentar todas as dificuldades que me haviam feito fugir. Deparando-me com todas os conflitos familiares com os quais não conseguia lidar, que me sufocavam e me causavam muito medo, ansiedade e angústias.

Neste contexto, meu corpo não suportou a pressão produzida pelos conflitos que ferviam dentro de mim e explodi como uma panela de pressão. São estas situações que desencadeiam muitas de nossas doenças. Em minha prima foi um câncer, em mim depressão, em uma amiga uma hérnia de disco e assim por diante. O tipo da doença que podemos vir a ter vai variar segundo nossa história cármica, genética, psicológica, emocional e física.

Em meu caso os sintomas foram angústia extrema, pensamento desconexo, crises de choro incontroláveis, falta de apetite, insônia, crises de pânico, falta de ar, taquicardia, e pensamentos fixos na morte ou em situações dolorosas. Um quadro complexo e extenso de dificuldades que me fizeram consultar, entre outros médicos, cardiologistas e neurologistas.

Finalmente, fui levada para um psiquiatra/psicanalista que me esclareceu o processo que estava se desenrolando em meu corpo. Ele me informou que meu cérebro estava produzindo de forma deficiente os neurotransmissores responsáveis pelo equilíbrio corporal. Por isso, a insônia, a falta de apetite e todos os sintomas que eu descrevi anteriormente. Daí a necessidade do uso de psicotrópicos, conhecidos como remédios controlados.

Descobrir antidepessivos era excitante, mas entender como e por que eles funcionavam era uma questão inteiramente diferente. A teoria do neurotransmissor foi introduzida 4m 1905; a acetilcolia, isolada em 1914; e em 1921 sua função demonstrada. Em 1933, a serotonina foi isolada, e em 1954 pesquisadores propuseram que a serotonina cerebral pudesse estar ligada a fuções emocionais. Em 1955, um artigo publicado na revista Science declara que o comportamento era, em alguns casos, o resultado imediato da biologia (SOLOMON, 2002, p. 308).

Segundo o psiquiatra, as substâncias contidas nos antidepressivos que me receitou, atuam no sistema nervoso, elas iriam aumentar a produção dos neurotransmissores, restituindo meu equilíbrio fisiológico e diminuindo o meu sofrimento.

Diante da explicação científica do psiquiatra entendi que precisava dos medicamentos prescritos, mas me deparei com o medo e o preconceito sobre os mesmos. Sempre olhei para tal tipo de medicamento como remédios para loucos e fracos, que geram dependência e têm perigosos efeitos colaterais. Contudo, não agüentando os sintomas resolvi tomá-los.

Lembro-me que tive muita vergonha de comprá-los as primeiras vezes. Quando estava na farmácia parecia que todos estavam me olhando como fraca ou louca, uma vez que aqueles remédios eram destinados para aqueles que eram incapazes de ter controle sobre o que pensavam e sentiam, e este era exatamente o meu caso. Foi difícil superar estes preconceitos e medos, que não eram apenas meus, mas também de minha família e amigos.

A primeira vez que tomei o antidepressivo, o medo foi tanto que comecei a imaginar que estava sentindo um mal estar, que iria perder totalmente o controle. Liguei para o psiquiatra que me acompanhava e expliquei o que estava sentindo. Ele perguntou a hora que havia tomado o remédio e me acalmou informando que seria impossível que o remédio estivesse causando tais sintomas, uma vez que suas substâncias precisam de muito mais tempo para fazer efeito no organismo humano. Assim, me acalmei e continuei a tomar o medicamento, que em poucos dias me ajudou, ao diminuir os sintomas que estava sentindo. Melhorou a qualidade e a quantidade do meu sono, aumentou meu apetite, ajudou a diminuir minha ansiedade e angustia. Esta melhora foi importante para analisar e resolver os meus problemas nas duas sessões de terapias que comecei a fazer semanalmente, pois quando estava sentindo os sintomas não conseguia pensar e nem falar em outra coisa.

Existem vários tipos de medicamentos que atuam no sistema nervoso com o objetivo de nos ajudar a recuperar o equilíbrio fisiológico, contudo, alguns deles podem reagir de maneira negativa em nosso organismo, e às vezes é necessária a experimentação de várias substâncias até encontrar aquela que age de forma positiva em nosso sistema. Eu tive sorte e tive uma boa aceitação ao primeiro medicamento que meu médico me receitou, mas conheço muitas pessoas que precisaram experimentar vários tipos de medicamentos até encontrarem aquele com o qual puderam recuperar seu equilíbrio. Nesta procura é necessário ter paciência e fazer um trabalho compartilhado com seu psiquiatra.

Outro tabu, que precisa ser superado, é o de que ao tomar psicotrópicos (remédios controlados) você ficará dependente. Desde que tive a primeira crise precisei usar o remédio mais duas outras vezes. Todas as vezes que usei tais medicamentos por períodos que variam de 3 a 6 meses sempre foi muito tranqüilo deixar de tomá-los. Após a melhora da crise, com o acompanhamento médico adequado, retirava os medicamentos gradativamente até que deixava totalmente de usá-los.